25 março 2007

E no espelho

Um descompasso, uma distração. Estava até o momento concentrada, a tal ponto de nem estar mais ali. Foi naquele segundo, naquele súbito impulso que tomou conta de meus músculos. Contraíram-se e virei-me.
Ato impensado que me custou este texto.
Sentada ali nada mais existia. Além da mesa, eram meus pensamentos que também estavam fora de ordem. Mas estavam focados no que lia e criando algo que... se perdeu, no momento que aconteceu este estremeço.
Ao virar-me, tinha um espelho. E por alguns milésimos de segundos, ou algum tempo pequeno destas “nano medidas”, não vi. Não vi a costumeira face de lábios selados pelas idéias; de olhos refletidos neles mesmos, que tanto já me era comum. Não. O que vi foi algo encantadoramente diferente, que durou nano infinitos minutos.
Como podemos nos definir assim tão certos? Sensatos... Estamos mesmo perdidos! Perdidos em nós mesmos e nossa multiplicidade. Não, Pirandello, não quero escolher. Agora, quero ser cem mil. E pronto! Caso eu mude de idéia, ficarei à vontade.

04 março 2007

Sobre Sorte e Azar

Foi quando muito pequena, uma peraltice me deixou uma marca na testa. Excluindo-se o dia em que ela apareceu, pois este inclui muita confusão, sangue, injeção na testa (sim, dói muito!), muitos médios e dor, ela nunca me incomodou... Sempre achei até bonita! Uma cicatriz... Minemotécnica de uma infância bem vivida.
Fui constantemente apoiada pela filosofia da vovó: “Somente as mulheres fatais têm cicatrizes no rosto”. Ótimo! Eu era, então, uma mulher fatal! Com prova e tudo! Certo, mas porque diabos tive que me arrumar mais uma? Com certeza não era por auto-afirmação!
Aproveitando o intervalo de uma aula, eu e uma amiga fomos papear e comer besteiras. Andávamos tranquilamente pela feirinha de alimentos armada no centro da UNICAMP. Clima tranqüilo, sem pressa... A moça da barraca da frente resolveu, bem naquela hora e não outra hora qualquer, arrumar o bendito toldo de sua barraquinha. Joga a lona pra cá... Joga pra lá... E teve a brilhante idéia de lançar o elástico (daqueles que muitos motoqueiros também usam, que são coloridos com “ganchos” nas extremidades) de trás da barraca para frente. Eu, imersa na história que contava para a amiga, não reparei o que a moça da barraca estava fazendo.
De repente... “Ai! Tati, o que é isso?”. O “inofensivo” gancho do elástico lançado pela moça descuidada prendeu na minha dobrinha conseqüente do movimento de fala, entre meu lábio e a bochecha. Por estar sem o plástico protetor, o gancho fixou bem, muito bem. Uma vez que a simpática senhora dona da barraca não viu onde o gancho tinha “enroscado”, ou fisgado, ela o puxou com toda força! Qual era a probabilidade? Dois pontinhos no universo se encontrarem de forma tão inconveniente! Minha dobrinha do rosto e gancho. Juntos!
Se já reclamavam que eu falava demais, agora eu tinha uma desculpa... Fiquei com duas bocas! Quando ela puxou, o gancho rasgou parte de minha bela cútis de uma forma bem dolorida. Não entendi nada! Só queria saber de onde vinha o sangue da minha bochecha... Até que veio o ardor e eu entendi o que tinha acontecido.
Como a senhora, que era um amor de pessoa, não quis nem me ver, corri para o banheiro com a amiga escudeira, que vinha logo atrás. Ao me olhar no espelho... “Putz Tati! Ela ferrou com o meu rosto! Que merda!” E eu ainda tinha que voltar para a sala de aula... Com esse novo visual! Que beleza!
Muitas piadinhas depois e vinte dias com esparadrapo no rosto, até que melhorou... Mas a cicatriz foi inevitável! Utilizando-me da sábia habilidade de virar a luneta, algumas reflexões me vieram à cabeça... Poxa, podia ser bem pior... Poderia ser no olho, no nariz... Ou até pegar tétano!
Hoje, sei que no universo estranho em que se encontra meu azar, se por ventura for atropelada, será por uma ambulância!

19 fevereiro 2007

Tudo se copia...

E não é que pegaram o Chaves, deram um tapinha, tiraram a poeira e jogaram na água? O mexicano aprendeu a falar inglês e está no fundo do mar: Bob Esponja retomou todos os ingredientes do eterno seriado latino, mas com um toque de verniz.
A cara ingênua e aparente vulnerabilidade do personagem que morava num barril estão, agora, num abacaxi. E não foi só ele não! A vila toda mudou para os domínios de Poseidon.
Será que poderíamos colocar o Siri Cascudo para cobrar o aluguel? Melhor ainda, o Seu Madruga dono da lanchonete, que tal? Bob Esponja tem dois melhores amigos: Sandy e Patrik. Soa familiar? Acho que Patrik não tem bochechões, mas continua o mesmo.
Então, os americanos se renderam à criação mexicana? Foi Chaves um vanguardista? Será a próxima vila no espaço? Haverá vilas em Marte? Quem sabe não mudaremos do México para dançar um Tango Argentino!
Simplicidade, trocadilhos e piadas clichês (mesmo que atualizadas). Sim, um programa que não é original nem traz formas e estruturas novas faz um explosivo sucesso para diferentes públicos devido a vasta e diferente interpretações para as piadas e referências (estilo herdado, também, do menino do barril).
Bom, em nome de um mundo melhor, estamos sempre reciclando!
Ruth Almeida