05 junho 2006

Abra a Boca

Tinha começado o dia com otimismo, pois era dia da tão esperada laringoscopia!
Cheguei no HC (Hospital Público de Campinas) ao meio dia. Não se pode entrar no hospital sem ter que pegar uma senha e ficar na fila, para que, assim, todos que estão sofrendo do mesmo mal possam entrar juntos e formar uma outra fila no balcão determinado.
Entrei no hospital às 13h12, e fui seguindo o fluxo até uma tal área roxa. É impressionante como todos que se encontram, ou já se encontraram, na mesma situação de perdido e doente tentam se ajudar! E os outros, “detentores de todas as informações”, só conseguem fazer movimentos circulares com as pontas dos dedos sem apontar para lugar nenhum e dizer: “vai por ali! E fale com a outra pessoa responsável”.
Sentada na sala de espera da faixa roxa, esperei. Alguns minutos se passaram e às 15h me chamaram no auto-falante.
Descobri então que não tinha uma pasta no HC e precisava abrir. Fui até o andar superior nos computadores da faixa amarela. Mais uma fila.
Pasta aberta, voltei à roxa. Esperei.
Depois de alguns sonhos entrecortados por berros de pacientes, às 16h20 ouço meu nome. Era hora do exame.
Acompanhei o residente que me sentou numa cadeira. Atrás, um televisor. Sem delongas disse: “Abra a boca”. Eu, achando que ele ia observar, abri. Após um inesperado espray que já estava engatilhado ele explica: “Isso foi um anestésico”.
Eu, que já não sentia se estava engolindo ou não, só queria saber se o nódulo presente em minha corda vocal já havia sido reabsorvido.
“Abra a boca”. Colocou um tubo prata, que devia ser o mesmo de tantos outros pacientes, cuja ponta continha uma microcâmera.
Entraram na sala mais um residente e uma mulher, que não consegui ver. Só ouvi: “Humm. Cadê o nódulo? Ah, e essa fenda? O que é essa fenda? Precisamos discutir isso”.
Retirou-se o tubo prata e me mandaram para a sala de espera.
Enquanto eu tentava diminuir minha ansiedade pelo resultado, 1 hora e 10 minutos se passaram... Ouço meu nome no auto-falante.
Sentaram-me, desta vez, em um corredor com biombos. Vem o aspirante a doutor e diz sem intervalos: “Olha, o nódulo sumiu, mas tem ainda uma fenda que não sabemos porque. Vamos precisar que você faça uma microscopia. É uma cirurgia que precisa de internação e anestesia geral, mas não se preocupe, pois não estamos pensando que é tumor. Aguarde um momento que preciso resolver um outro probleminha”. Saiu.
Nessa altura, meu sistema hidráulico, que já não funciona muito bem, estava a todo vapor. Lágrimas descontroladas escorriam...
Depois de uns minutos ele volta com uma agenda. “Para quando vamos marcar a cirurgia?”. Neste momento, e finalmente neste momento, ele olha para mim e realmente me enxerga. “Você está preocupada com alguma coisa?”.
Não... Claro que não... Ele só tinha falado três das seis palavras que mais aterrorizam pessoas: Cirurgia, Anestesia Geral e Tumor!
Eu, que pensei que teria resultados, saí de lá com dúvidas, lágrimas e uma cirurgia marcada.

Um comentário:

Unknown disse...

em pensar que tudo isso aconteceu pq eu num tava perto!!!
num pode andar sem mim que da zebra...
num aprendeu???
bjus